A mulher em "Dom casmurro" e "São Bernardo": Uma comparação

novembro 08, 2018


Em ambas as obras os personagens protagonistas, veem a sua mulher como mais inteligente e esperta que eles próprios. Paulo Honório se reconhece como pouco culto, e conhecedor de vocabulário principalmente técnico e de negócios, enquanto sua mulher Madalena é bem instruída e intelectualizada, dessa forma na sua visão, ela ameaça sua autoridade masculina. Já Bentinho ressalta as qualidades de sua amada, tanto a beleza quanto sua perspicácia. No entanto, essas mesmas qualidades que o encantaram, tornam-se a causa de seu ciúme e desconfiança.
Nas duas obras o narrador é o próprio protagonista, o que torna a narração dos fatos pouco confiáveis, pois as suas percepções são comprometidas pela visão patriarcal típica da época em que vivem e pelo ciúme que sentem. Dessa forma, o caráter e as atitudes de suas mulheres, são mostrados da forma que esses homens interpretam. Ambos os protagonistas se veem ameaçados pela inteligência de suas esposas. Bentinho sente ciúme medo de ser passado para traz por aquela mulher tão mais esperta que ele. Paulo Honório sente ciúme e supõe sua autoridade masculina ameaçada.


Percebe-se que Capitu, mesmo sendo astuta e dona de uma personalidade forte, ainda sim viveu de forma convencional a uma mulher de sua época, casou-se com uma esperança romântica do amor, a personagem seguiu como era esperado pela sociedade carioca do final do século XIX. Apesar disso, Bentinho sentia desconfiança por causa da inteligência de sua esposa e sua personalidade independente. 


Ocorre de maneira parecida com Madalena, em São Bernardo, que sendo uma mulher bem instruída e a frente de seu tempo, concorda em casar-se, mesmo tendo conhecimento sobre o que era esperado de uma mulher dentro do casamento: a submissão ao marido e renuncia a si. Mas mesmo assim, como Capitu, apesar de mais marcante, Madalena mantem sua personalidade independente, se mostra ousada e insubmissa. Isso acaba despertando a desconfiança de seu marido também. Paulo Honório via a mulher como mercadoria, algo comum a sua época e meio, esperava uma mulher na qual pudesse mandar e se comportasse conforme a vontade do marido, não poderia aceitar que sua mulher compartilhasse da autoridade de forma igual. Nas duas obras a personalidade forte e questionadora da mulher desperta a desconfiança por parte dos outros. O fato das histórias serem narradas por homens possibilita perceber a visão masculina sobre o seria o comportamento correto de uma mulher naquelas épocas.

Em Dom Casmurro é apresentada a visão de mundo da sociedade carioca do final do século XIX, que prezava pela submissão, delicadeza e total dedicação da mulher, sem ou atitudes independentes.
São Bernardo apresenta a visão típica daquela época e região, que tinha a mulher como mercadoria, ou mais um bicho domesticável.
Nota-se que tanto em uma história como na outra,  o fim das duas mulheres acaba por não ser feliz. Demostra-se, dessa maneira, as dificuldades das mulheres em se fazerem percebidas e respeitadas como seres pensantes e intelectualmente independentes, mesmo em épocas e cenários sociais distintos.

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